Este blogue é tão-somente a minha “página” na Internet.Não sou o dono da razão, nem da verdade,sou mais um ser humano e tenho “defeitos” como todos os outros. A minha escrita por vezes, poderá ser cáustica, e satírica, escrevo assim por gosto, por amor incondicional pela escrita, natureza, humanidade, paz, liberdade, justiça social, e um mundo novo, exequível. Se o meu amor for "pecado" estou a residir no planeta errado ! BEM VIND@S A TOD@S QUE VIEREM POR BEM ! vitor jorge
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
O que o papa não disse
quarta-feira, 10 de dezembro de 2014
Consumismo
O impeto irracional de compra devasta natureza e amplia desigualdade. Mas é alimentado pela ideia de que mercadorias suprem vazios existenciais O trânsito insano nos grandes centros urbanos, a excitação provocada pelas luzes e decoração das cidades, filas enormes no estacionamento dos centros comerciais e a imposição da compra de um número quase sem fim de presentes: para familiares, amigos secretos ou simplesmente conhecidos. Fico pensando no real significado da data, de fechamento do ano e de um ciclo. Será que estamos comemorando o Natal de forma sustentável, com tanto desperdício de comida e embalagens, amontoado no dia seguinte às comemorações? Será que passamos valores humanos para as crianças ao comemorar um Natal em que o presente é o mais importante da festa e as cartas endereçadas ao bom velhinho trazem listas sem fim de brinquedos e eletrónicos – objetos de desejo das nossas crianças desde a mais tenra idade? Consumo consciente versus consumismo. Esse talvez seja o maior desafio que a contemporaneidade nos reserva: como consumir de forma mais consciente e crítica, principalmente em épocas como o Natal, quando somos atravessados e impelidos a consumir em excesso? Não podemos negar que o consumo faz parte do nosso cotidiano. É um factor importante no processo de desenvolvimento económico, pois aquece o mercado e a produção, gera lucros e empregos. Mas, quando recebe o sufixo ismo essa prática, tão trivial no nosso dia a dia, transforma-se em doença. Oneomania ou compulsão por comprar é hoje um fenômeno que acomete uma grande fatia da população mundial, a maioria mulheres, segundo dados científicos recentemente apurados. Um alerta, porém: atualmente o consumismo não é tido como doença. É um hábito e estilo de vida, aceite na nossa sociedade desde a infância não só pelo estímulo incansável do mercado, mas também pela enorme pressão social que nos convida a consumir sem reflexão. Mais do que um hábito, o consumismo hoje agrega valor ao indivíduo. E aí vale a reflexão: que valores são esses que estamos transmitindo às crianças? Hábitos consumistas e valores materialistas que priorizam o ter em detrimento do ser, o individual acima do coletivo, a competição ao invés da cooperação. Facto que fica evidente no documentário de 2008 "Criança, Alma do Negócio", da directora Estela Renner, numa cena surpreendente em que somente uma em cada dez crianças diz preferir brincar a comprar. O estilo de vida consumista coloca-nos, portanto, questões sérias e urgentes. A primeira é de ordem ética e moral: 20% da população mundial consomem 80% dos recursos naturais, ou seja, poucos consomem muito, enquanto a maioria passa por privações. Num país como Portugal, que tem uma desigualdade social enorme, esse fator agrava-se contribuindo para o aumento da pobreza e da violência. O segundo ponto diz respeito às questões ambientais, pois sabemos que os recursos são finitos e relacionamo-nos com eles de forma insustentável. Por fim, não podemos deixar de mencionar os impactos emocionais que esse estilo de vida impõe aos sujeitos contemporaneos que crescem acreditando na posse e oferta de objetos como sinónimo de felicidade e demonstração de afeto. Se antigamente os nossos elos sociais se davam por instâncias claras como espiritualidade, família e escola, hoje precisamos adornar os nossos corpos para nos fazer visíveis e assim sermos reconhecidos e aceites como membros da sociedade. O consumo transformou-se em passaporte para obtenção de cidadania, proporcionando ao sujeito visibilidade social. Bens e serviços funcionam como ingresso de trocas sociais e afetivas. A cultura do consumo, na qual estamos todos inseridos, mercantilizou dimensões sociais e datas comemorativas. Mas consumir pode significar extinguir e destruir, portanto precisamos mudar nossos próprios hábitos de consumo, assim como passar valores menos materialistas às nossas crianças, para que nas suas cartas de Natal peçam algo além de objectos. O meu pedido vai aos adultos cuidadores de crianças, sejam eles pais, avós ou educadores. Será que juntos não conseguimos lutar contra esse convite exagerado ao consumo, e realizar festas de final de ano que envolvam outro tipo de troca – que não somente a de presentes? Talvez assim possamos subverter a ordem estabelecida do consumismo desenfreado e exercitar o desapego. E encontrar uma forma mais sincera de fechar nosso ano com menos dívidas e mais afecto. Boas festas!