Este blogue é tão-somente a minha “página” na Internet.Não sou o dono da razão, nem da verdade,sou mais um ser humano e tenho “defeitos” como todos os outros. A minha escrita por vezes, poderá ser cáustica, e satírica, escrevo assim por gosto, por amor incondicional pela escrita, natureza, humanidade, paz, liberdade, justiça social, e um mundo novo, exequível. Se o meu amor for "pecado" estou a residir no planeta errado ! BEM VIND@S A TOD@S QUE VIEREM POR BEM ! vitor jorge
sábado, 22 de fevereiro de 2020
Aniversário 2020
52 amigas amigos desejaram-me parabéns no Facebook por ocasião do meu aniversário. Feliz.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020
A DAMA DA NOITE
A DAMA DA NOITE
Conhecem-se, de madrugada, num bar.
De manhã, ele acorda na cama dela. Ela aquece café; bebem-no pela mesma chávena. Ele descobre que ela rói as unhas e que tem umas mãos lindas de miúda. Não dizem nada. Enquanto se veste, ele procura palavras para lhe explicar que não lhe poderá pagar. Sem olhar para ele, ela diz, como quem não quer a coisa:
Nem sei como te chamas. Mas se quiseres ficar, fica. A casa não é feia.
E ele fica.
Ela não faz perguntas. Ele também não.
À noite ela vai trabalhar. Ele pouco ou nada sai.
Passam os meses.
Uma madrugada, ela encontra a cama vazia. Em cima da almofada, uma carta que diz:
Queria levar comigo uma das tuas mãos. Roubo-te uma luva. Perdoa-me. Digo-te adeus e muito obrigado por tudo.
Ele atravessa o rio Minho, a partir de Vila Nova de Cerveira, numa tentativa de fuga para França. Poucos dias depois, é preso nos arredores de Barcelona. É preso por um acaso idiota.
O coronel insulta-o e bate-lhe. Levanta-lo pelos colarinhos:
Vais dizer-nos porque não tens documentos, para onde pensas que vais. Vais dizer-nos tudo. Ele responde que viveu com uma mulher em Vila Nova de Cerveira. O coronel não acredita. Ele mostra a fotografia: ela sentada na cama, nua, com as mãos na nuca e o longo cabelo preto a cair-lhe sobre o peito.
Com esta mulher diz, em Cerveira.
O coronel arranca-lhe a fotografia da mão e, de repente, explode de fúria, dá um murro na mesa, grita puta que a pariu, traidora filha da puta, vai-me pagar, desgraçada, esta sim vai-me pagar.
E então ele dá-se conta. A casa dela era uma armadilha, montada para caçar tipos como ele. E lembra-se do que ela lhe disse uma tarde, depois do amor:
Sabes uma coisa? Eu nunca senti, com ninguém, esta ... esta alegria dos músculos.
E pela primeira vez compreende o que ela acrescentou, com uma sombra estranha nos olhos:
Alguma vez tinha de me acontecer, disse.
Foda-se! Eu sei perder.
(Este facto aconteceu em 1970 quando muitos portugueses acossados pela ditadura de Salazar tentavam salvar a pele através da fuga pelas fronteiras portuguesas)
Vitor Jorge
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