domingo, 24 de março de 2019

SAÚDE PÚBLICA

HOJE: O PARAÍSO COM UM INFERNO OCULTO

Não pretendo com a presente nota provar o que quer que seja, porém no uso pleno da minha liberdade que me assiste, questionar o governo regional dos Açores e a secretaria regional da saúde sobre os silêncios que envolvem e comprometem esta secretaria sobre assuntos tão delicados como a saúde pública. Os casos dos números de óbitos em crescendo vítimas de cancro são assustadores nesta região autónoma, os registados, pelo IPO de Lisboa em indivíduos residentes nesta região, tem vindo a causar perplexidade pelo excesso de casos simultâneos aos clínicos que ali exercem a sua profissão. Será que o governo regional desconhece estes números ? Não é possível! Perante este quadro negro da saúde nos Açores, não terá a secretaria regional da saúde a obrigação cívica e moral de empreender estudos urgentes sobre esta questão no sentido da prevenção da saúde dos seus cidadãos de pleno direito? Os casos designados como infeções hospitalares em crescendo, com vítimas, não merecem da respectiva secretaria um esclarecimento público, e respectiva tomada de posição no sentido de erradicar uma situação impensável na actualidade? Que medidas foram tomadas no sentido de uma saúde pública decente e justa, um direito que está nitidamente a ser violado num silêncio comprometedor ? Será que estamos condenados à lei de Murphy ? Senhor presidente do governo regional dos Açores, senhor secretário regional da saúde, já passa do tempo de assumirem as vossas responsabilidades para com este povo que os elegeu porventura expectante numa posição governativa clarividente que dissipe esta bruma que nos quer vencer. A boa saúde do povo Açoreano é um direito inalienável que convém manter numa condição de dignidade que Vas. Ex.as teimam em menosprezar, remetendo para os desígnios das divindades a solução secular e conformista do povo desta região, que por qualquer anomalia divinal não funciona, quiçá por suprema irritação pela vossa inércia e desresponsabilidade na gestão uniforme e democrática deste paraíso com um inferno oculto.

27/03/2016

Vitor Jorge

sábado, 23 de março de 2019

À CONVERSA COM...

Ontem, e por força de circunstância, estive à conversa com dois proselitistas, adeptos fervorosos do salazarismo. Joguei conversa fora, coisas sem importância de maior, mas que foram, contudo, suficientes para me darem a entender que sentem por mim um desprezo amável e compreensivo, quase piedoso. Imagino que eles, quando se refastelam nos velhos cadeirões da demência, se devem sentir quase omnipresentes, pelo menos tão perto do Olimpo quanto pode chegar a sentir-se uma alma sórdida e escura. Chegaram ao ponto máximo. Para um futebolista, o máximo significa um dia fazer parte da selecção nacional; para um místico, comunicar​ alguma vez com o seu Deus; para um sentimental, encontrar num outro ser alguma vez o verdadeiro e o dos seus sentimentos. Em contrapartida, para esta pobre gente o máximo é um dia sentar-se nos cadeirões da etocracia, experimentar a sensação (que para outros seria tão incómoda) de que alguns destinos, estão nas suas mãos, ter a ilusão de que resolvem, de que dispõem, de que são alguém. No entanto, ontem, enquanto os observava, não consegui ver neles a cara de alguém mas de algo. Parecem-me coisas, não pessoas. Mas que lhes parecerei eu? Um imbecil, um incapaz, um fraco que se atreveu a recusar uma oferta do Olimpo, um Zé Ninguém. Uma vez, há muitos anos, ouvi o mais velho dizer: " o grande erro de alguns homens de negócios é tratar os seus empregados como se fossem humanos," nunca esqueci, nem esquecer​ei, aquela frasezinha, pela simples razão de que não a posso perdoar. Não apenas em meu nome mas em nome de todo o género humano. Agora sinto a forte tentação de dar a volta à frase e pensar: "o grande erro de alguns empregados é tratar os patrões como se fossem pessoas." Mas resisto a essa tentação. São pessoas. Não parecem, mas são. E pessoas dignas de uma odiosa piedade, da mais infamante entre as piedades, porque a verdade é que constroem  para elas uma casca de orgulho, uma repugnante desfaçatez, uma sólida hipocrisia, mas, no fundo, são ocos. Asquerosos e ocos. E padecem da mais horrível variante de solidão, a solidão daquele que nem a si próprio se tem.

Viktor Jota

quarta-feira, 6 de março de 2019

OS BARBAROS E O PROGRESSO

Os Bárbaros e o progresso

Numa Ilha de
173, 1 km quadrados de superfície rodeada de mar por todos os lados, cerca de 15 000 pessoas habitam esta nesga de terra, com sérias tendências de redução de áreas onde os seus habitantes tenham pleno direito à lógica do livre acesso e usufruto do território que é propriedade dos seus habitantes que pagam alto preço por esse benefício: viver numa ilha, é sonho, poesia, romance, assente sobre a natureza num harmonioso contraste terra - mar desde os primórdios, as nossas gentes sempre labutaram o seu sustento nestas duas áreas naturais, sem constar empírica ou cientificamente qualquer tipo de delapitação da sua fauna e flora ambientais  quer em terra quer no mar. Provas disso: caçaram-se cachalotes, golfinhos, pescaram-se atuns e todas as variedades de peixes consumíveis na alimentação, caçaram-se cagarras para engodo e isco; nenhuma destas espécies esteve alguma vez posta em causa de extermínio, idem para as aves migratórias que jamais nos abandonaram. Os consumos foram sempre metódicos e coerentes durante muitos séculos e outras tantas gerações que sobreviveram em consonância responsável  com o ambiente; face há actualidade somos forçados a atribuirmo-nos uma classificação indigna de bárbaros. As circunstâncias políticas em que o país viveu não promoveu o desenvolvimento e por conseguinte o progresso necessário. A adesão à União Europeia foi o primeiro passo para uma política vocacionada ao progresso que se supôs igualitário quase "milagroso", porém a realidade nostálgica e ignota esfumou-se nos subsídios para não se produzir ou fazê-lo sob tabelas impostas pela mesma União cuja finalidade e objectivos só agora tem visibilidade negativa, na corrupção e interesses dos grandes banqueiros. Eis que entramos na "era do progresso em alta escala de abundância" do salve-se quem poder e da anarquia de gestões ruinosas dos nossos recursos ilhéus imparáveis, a tão apregoada autonomia e unidade Açoriana nunca existiu, a capital continua sediada em São Miguel apesar dos esforços de manobras de diversão conseguidas e continuadas na submissão estagnada e estupidificante deste povo que persiste em ser espoliado na constante degradação do seu modus vivendi: a pobreza explodiu, dando lugar à anarquia, vale tudo para sobreviver, idealizam-se proibições, interdições sem sentido, que incitam à contrafação e ao descalabro total dispensável. As nossas riquezas marinhas estão reduzidas a quase zero, o pescado eleva-se a preços exorbitantes bem como a carne, proibitivos ao consumidor sem poder de compra, enquanto isso, nenhum pescador vai além da miséria, nem os productores de carne saem da cepa torta. Em agonia aposta-se na venda de um destino turístico em que lucram os mesmos de sempre (São Miguel) as restantes ilhas ficarão à mercê das migalhas e do turista falido.
A persistente e constante gestão ruinosa de todos os governos pós autonomia são a causa que culmina com a actuação do governo actual visivelmente incapacitado de ter uma atitude progressista igualitária e libertadora para com este povo que cumpre com os seus impostos na cega espectactiva sebastianista de que surgindo das brumas haverá uma divindade que lhes valha, na imprevisibilidade dos tempos.

Vitor Jorge
06/03/2016