terça-feira, 13 de agosto de 2019

ALEGORIA DO FANTÁSTICO

ALEGORIA DO FANTÁSTICO

Finou-se hoje mais uma edição da Semana do Mar 2019.
Estão de parabéns a comissão de festas, e presidente da Edilidade Faialense pela dedicação a este evento maior deste pequeno burgo. De facto, a Semana é composta de múltiplas vertentes lúdicas, no mar e em terra nem sempre a contento do povo local e de quem nos visita. Festa é festa, e cada qual guardou da mesma os maiores proventos possíveis na diversidade proposta.
No mar, considere-se uma aposta razoável, em terra, muitas contradições, mais do mesmo mais. Louvável a tentativa de erradicação dos plásticos poluentes, o cuidado atempado das recolhas do lixo dos contentores públicos e respectiva desinfeção (apenas durante a festa), limpeza do recinto e áreas envolventes, (excepto os vómitos e vasilhame da consequência).
Insolúveis prevalecem os suplícios do trânsito automóvel, a ocupação da avenida marginal, o ruído infernal das tendas de diversão noturnas, uma fórmula contra natura de poluição que o edil não considera. Assim, fica anulada a tentativa anti poluta que com tanto alarde se tentou fazer passar, em vão.
Em maré de poluição fica a nódoa da Praia de Porto Pim, que o mar não lava, porque a fonte permanece activa. Esteve muito bem o edil naquilo que melhor sabe fazer: discursar, pese embora alguma gaguez em diversas circunstâncias, o óbvio. A arte politiqueira disse presente nos dez dias festivos. Promessas, e para o que estas não são capazes de cumprir, o apelo à esperança das gerações futuras, para esta, nada de novo.
Ampliação do aeroporto, construção do novo porto, saneamento básico, áreas pedonais, reparação de vias e passeios degradados, um ror de necessidades básicas fundamentais ao desenvolvimento desta ilha. "Não há dinheiro", insistem os velhos do Restelo da orde PS, enquanto isso, ardem milhões em obras puramente eleitoralistas que não trazem tranquilidade menos bem-estar a este povo que persiste em lhes estender a passerelle.
No prosseguimento das obras da "frente mar" olvidou-se algo fantástico: a ligação das duas baías através da Rua Nova, a aquisição de gôndolas, e reduzir o desemprego com o pessoal a cantar o sole mio, isto se os "olheiros" da metereologia forem favoráveis.
O progresso e felicidade de qualquer povo passa sempre pela solução das suas necessidades básicas e prioritárias, pela boa vontade e compromisso concreto, nunca pela fantasia partidária em benefício degradante dos próprios.
Festejar sempre, com a coerência e propósito de servir o eleitorado. Esta estratégia vigente está condenada a uma mera alegoria do fantástico.

Vitor Jorge

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

O MELHOR VESTIDO DE NOIVA É A PELE

SINTESE DE RESULTADOS OFICIAIS FORNECIDOS PELA REGIONAL DIREÇÃO DOS ASSUNTOS DO MAR

"1-Praia de Porto Pim, no Faial, reabre quarta-feira, 31 de julho, à prática balnear, depois de ter estado interdita a banhos devido a um fenómeno tópico e espacialmente restrito de contaminação por bactérias fecais.

2- A Direção Regional dos Assuntos do Mar (DRAM), na sequência de um reporte informal de que várias crianças teriam tido alguns problemas de pele, embora sem gravidade, após terem frequentado a Praia de Porto Pim, contratou o Instituto Ricardo Jorge para proceder à recolha de amostras de areia em diversos locais da praia, sendo que os resultados preliminares indicaram a presença de contaminação bacteriológica em algumas zonas do areal.

3- O técnico especialista do Instituto Ricardo Jorge recolheu uma amostra de areia junto ao paredão sul da praia e outra amostra, composta em quatro áreas, ao longo da praia.

4- Refira-se que, por lei, não é obrigatório fazerem-se análises de areia das zonas balneares.

5- Os resultados das análises indicaram, sem margem para dúvida, a existência de um foco de contaminação fecal, junto ao paredão da praia.

6- Perante esta situação, a DRAM convocou as autoridades competentes, nomeadamente a Delegada de Saúde Concelhia da Ilha do Faial, a Polícia Marítima e o Parque Natural da Ilha do Faial, bem como a Câmara Municipal da Horta, para ser desenhado um plano de ação para mitigar a contaminação por bactérias fecais (Escherichia coli e Enterococos intestinais).

7- Paralelamente, a DRAM intensificou também a monitorização regular daquela água balnear, em especial na proximidade do foco de contaminação, tendo-se verificado que se encontrava em boas condições para banhos.

8 - Por outro lado, o Parque Natural da Ilha do Faial desenvolveu todos os esforços para identificar e conter a origem da contaminação, tendo-se concluído que se devia a uma deficiência de uma caixa de passagem do sistema de fossas do bar da Fábrica da Baleia, que foi imediatamente reparada, através da sua impermeabilização.

9- A interdição da Praia de Porto Pim revela que o sistema de monitorização das zonas balneares dos Açores é eficaz, permitindo que a sua utilização seja feita em segurança.

10- Refira-se ainda que o processo entre a recolha das amostras, a sua análise e a obtenção de resultados leva o seu tempo, tendo sido disponibilizada a informação possível, de modo a evitar especulações e interpretações erróneas."

(Na minha nota anterior "DEIXA ANDAR QUE LEVA AZEITE", fica infelizmente provada a minha teoria, acrescida da razão  que me assiste.)

O MELHOR VESTIDO DE NOIVA É A PELE

Persigo a voz inimiga que me ditou a origem de estar triste com esta situação de viver numa região onde reina o inverosímil. Às vezes, dá-me para sentir que a alegria é um delito de alta traição, e que sou culpado do privilégio de continuar vivo e livre.
Nessa altura, faz-me bem recordar o saudoso e insigne Dr. Luís Decq Mota ao verbalizar diante das ruínas provocadas pelo vulcão dos Capelinhos :《As cinzas queriam fazer-nos desaparecer. Mas não  conseguiram, porque estamos vivos e isso é o principal》. E penso que o Dr. tinha razão. Estar-mos vivos: uma pequena vitória. Estar-mos vivos, ou seja: capazes de alegria, apesar dos adeuses para outras paragens seja o testemunho de uma outra região e autonomia possíveis, quanto desejáveis.
Aos Açores, tarefa por fazer, não os vamos continuar a erigir com tijolos de merda .
A alegria requer mais coragem que a mágoa.
À mágoa, ao caciquismo local e regional, ao fim e ao cabo estamos habituados, mudos e quedos, na nossa tradicional antropologia da vacuidade. Está visto que se pode proibir a água, a sede não.

Vitor Jorge