sexta-feira, 18 de outubro de 2019

AO REDOR DE MIM

AO REDOR DE MIM 

Esta gente toda que caminha comigo, ou está sentada às mesas dos cafés, nas esquinas e recantos, ou esses tipos que de repente se detém e olham para o vazio e depois continuam a caminhar e falam sozinhos e fazem gestos. O que será cada uma dessas vidas? Cada tipo caminha com o seu mundo de problemas, com as suas dívidas, as suas masturbações, os seus rancores, as suas nostalgias, as coisas que querem ser e essa pouca coisa que são. Penso e repenso, e ando sempre ao redor das milhares de imagens deste mundo quase indecifrável. Assim como eu giro ao redor da universalidade e creio que o mundo começa e acaba em mim, que tudo existe em função das minhas dúvidas, assim também cada um desses pobres diabos crê que o seu drama é o Grande Drama, quando na realidade a ninguém importa um chavo, assim na Terra como no Céu. Por fim, o carro. Que felizardo ele é. Todos os seus problemas são solucionados pelo mecânico. Mas quando a mim me falta um sentimento, um pistão, digamos, ou as minhas válvulas de escape estão gastas, ou a nostalgia, o sistema de ignição, digamos, tem a faísca atrasada, não há mecânico que possa concertar-me. O calor humano, a dignidade, operam milagres na incerteza cotidiana pela luta de um mundo mais igualitário e fraterno.

VitorJorge

Sem comentários:

Enviar um comentário