quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

O POETA E A LUA

O POETA E A LUA Em meio a um cristal de ecos O poeta vai pela Rua Seus olhos verdes de éter Abrem cavernas na lua A lua volta de flanco Eriçada de luxúria O poeta, alocado e branco Palpa as nadegas da lua Entre as esferas nitentes Tremeluzem pêlos fulvos O poeta, de olhar dormente Entreabre o pente da lua Em frouxos de luz e água Palpita a ferida crua O poeta todo se lava De polidez e doçura Ardente e desesperada A lua vira em decúbito A vinda lenta do espasmo Aguça as pontas da lua O poeta afaga-lhe os braços E o ventre que se menstrua A lua se curva em arco Num delírio de volúpia O gozo aumenta de súbito Em frêmitos que perduram A lua vira o outro quarto E fica de frente, nua O orgasmo desce do espaço Desfeito em estrelas e nuvens Nos ventos do mar perpassa Um salso cheiro de lua E a lua, no êxtase, cresce Se dilata e alteia e estua O poeta se deixa em prece Ante a beleza da lua Depois a lua adormece E míngua e se apazigua ... O poeta desaparece Envolto em cantos e plumas Enquanto a noite enlouquece No seu claustro de ciúmes (Vinicius de Moraes ) Copy Vítor Jorge

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