sábado, 10 de dezembro de 2016

O LADO B DA CIVILIZAÇÃO

O LADO B DA CIVILIZAÇÃO

Já todos estamos consciencializados que o automóvel não é apenas um objecto banal.Mesmo que apenas o fosse, teríamos de contar com as suas consequências físicas mais directas, como a sinistralidade, o ruído e a poluição atmosférica.
É ao nível do urbanismo que o automóvel tem efeitos mais perniciosos. A sua presença invisível preside à própria expansão urbana e ao planeamento dos respectivos acessos. Gera a fragmentação do território por criar uma assimetria evidente entre os locais de trabalho e locais de residência; o automóvel é a solução universal de mobilidade que nos é imposta mas sem que a razão o justifique. 
Detectar esta responsabilidade dos urbanistas no planeamento do território é descobrir as próprias condições a que temos de obedecer se nos quisermos deslocar para determinado local. Acima de tudo, o território desenhado segundo o automóvel é uma forma de controlo irresponsável. Que bom seria se a cada proprietário de um veículo fosse atribuído estacionamento privativo à porta de entrada da residência, mesmo em prejuízo de outrém de "estatuto social inferior", não seria o culminar da felicidade, mas certamente mais uma afirmação egocêntrica dos bebés proveta deste "Admirável Mundo Novo" (1).
As leis que regulamentam o trânsito tem como finalidade harmonizar a fluidez do mesmo, com regras transgredidas diariamente fruto da conveniência pessoal hipócrita.
A verdade é a ausência da mentira, que poucos ousam admitir em sociedade e onde quase todos se outorgam o direito de credibilizar a sua verdade como universalista. Um choque civilizacional da era hodierna com consequências directas e limitativas do progresso e bem estar da sociedade em que se inserem.

Vitor Jorge

(1) romance 1932 "O Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley, onde as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem com as leis e regras sociais, dentro de uma sociedade organizada por castas.

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