quarta-feira, 11 de março de 2015

O poeta e a lua

Em meio a um cristal de ecos
O poeta vai pela Rua
Seus olhos verdes de éter Abrem cavernas na lua
A lua volta de flanco
Eriçada de luxúria
O poeta, alocado e branco Palpa as nadegas da lua
Entre as esferas nitentes Tremeluzem pêlos fulvos
O poeta, de olhar dormente Entreabre o pente da lua
Em frouxos de luz e água Palpita a ferida crua
O poeta todo se lava
De polidez e doçura
Ardente e desesperada
A lua vira em decúbito
A vinda lenta do espasmo Aguça as pontas da lua
O poeta afaga-lhe os braços
E o ventre que se menstrua
A lua se curva em arco
Num delírio de volúpia
O gozo aumenta de súbito
Em frêmitos que perduram
A lua vira o outro quarto
E fica de frente, nua
O orgasmo desce do espaço Desfeito em estrelas e nuvens Nos ventos do mar perpassa Um salso cheiro de lua
E a lua, no êxtase, cresce
Se dilata e alteia e estua
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua
Depois a lua adormece
E míngua e se apazigua ...
O poeta desaparece
Envolto em cantos e plumas Enquanto a noite enlouquece No seu claustro de ciúmes

(Vinicius de Moraes ) Copy Vítor Jorge

Sem comentários:

Enviar um comentário