NEBLINAS & TURISMO S.A.
Esta asfixiante e intermitente neblina em pleno mês de Julho, faz-me dor de cabeça. Abro as janelas, para as fechar imediatamente a seguir. Temo que a réstea de verão que sobra dentro destes quartos se escape. Saio para a rua, a impiedosa neblina não permite que o meu olhar ultrapasse os dez metros, outras vezes, nem tanto.
Apoio os braços na janela da bruma, penetro como uma flecha na densidade asfixiante e depressora da bruma plumbea: o azul suave, a carícia do sol invadem-me, ergo esta orgia de sentidos nos meus braços, como se ergue um afogado para o transportar a terra firme, um tremor de emoção, contemplo o universo, pior melhor, não sei, respiro sol, azul, daria metade da minha vida por este tónico natural que ora me fortalece. Talvez não tenha sabido olhar, tenho os meus olhos apagados pela neblina, sou um cego honesto.
Não acreditem que os meus dedos me transmitem a paz roçando o pontilhado dos caracteres Braille, nas minhas leituras e preocupações sociais, o desassossego anula a estúpida tranquilidade que oferece a posse sem lutas, a persistência da densa bruma continua sendo um arpão na esperança democrática destas ilhas Acóricas.
Vislumbro além das neblinas: o povo que se bronzeia da densa névoa, aplaude de pé o progresso nebuloso à boleia das neblinas protectoras em que se firma evanescente. A espessa densidade de fog cativa turistas! Quem diria! Tantos, que entopem as ruas dificultando o trânsito automóvel. Delicadamente imobiliza-se a viatura, sem progresso chega-se tarde ao emprego, ás necessidades de quem pretende suprir a existência. Nada! Ninguém se move um milímetro.
Por vias da lógica as viaturas automóveis vem equipadas com uma buzina que obrigatoriamente se faz soar mínima e delicadamente em fá sustenido para não quebrar o enleio e felicidade de quem amávelmente nos visita. Estala o verniz, o caos, os visados entendem que pagaram o silêncio, as ruas, o fog, a ilha inteira. Partem para viatura visada com a agressividade a quem desfacelaram os tímpanos, insultam, pontapeiam, (inclusive senhoras) extremam-se posições e, por fim, lá se consegue a tão desejada progressão, agora depressiva na expectativa da próxima que poderá surgir ao voltar da esquina seguinte. Sem generalizar, não é lugar comum, mas cada dia há mais casos.
O turismo é desejável, mas nunca o seu futuro desorganizado.
É possível a coabitação saudável de turistas e residentes desde que impere o respeito mútuo. Surgem novas empresas pretensamente vocacionadas para o turismo, até para o científico, todas são dignas de aplausos, porém a desorganização flagrante, a cegueira do lucro fácil, constituem motivo de preocupação.
Vender gato por lebre, ou comprar férias no paraíso, trás repercussões negativas a breve trecho, que ninguém modera ou acautela relativamente ao futuro turístico regional.
Abram alas e siga a festa, vamos alugar as ilhas, exportar nevoeiro, manuais para turistas pedestres, viver para o Vaticano, subsistir de alugueres, e rezar terços em harmonia com o orgulho da fé(zada.)
Vítor Jorge 13/07/2016
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