CONSIDERANDO
Não sei porque razão a bomba de Nagasaki me afectou mais do que a de Hiroshima. Talvez porque representou não só o horror mas também a sua continuidade. Expecificou-se a potência do engenho foi de 12,5 Kilotoneladas, acrescentando que uma kilotonelada equivale a mil toneladas de TNT. Hoje compreendo a sua verdadeira dimensão aterradora. Ora bem, como aqueles que lançaram a bomba não foram alemães, nem franceses, nem russos, mas sim norte-americanos, muitos historiadores festejaram o acontecimento enaltecendo os formidáveis avanços das técnicas bélicas das forças "democráticas" . Por outro lado, as centenas de milhares de vítimas não eram branquinhas mas sim amareladas, pelo que também não houve grande motivo de preocupação.
A mim, tudo aquilo me pareceu um horror. Nunca consegui perceber como é que as pessoas oscilaram de forma tão irresponsável entre a indignação e o regozijo. Prognosticou-se que com isto a guerra iria acabar e disseram-no com enorme júbilo, como se até ao dia anterior tivesse-mos sido todos as vítimas diárias dos bombardeamentos. Não é que eu tenha especial empatia pelos japoneses, mas pareceu-me sempre uma atrocidade que milhares de civis morressem calcinados. Com que rapidez os norte-americanos aprenderam com os nazis o sistema dos fornos crematórios! De Auschwitz a Hiroshima, sem escalas. Alguém escreveu: "com esta acção evitaram-se milhares de outras mortes". Estive prestes a cair no pecado colateral: odiar o ódio.
O progresso global desde então estabeleceu novas regras. Bombas H com um poder de destruição inimaginável: os ditadores. É como se alguém me disse-se "vocês também vão sucumbir, na verdade já estamos a sucumbir, só que são outras as bombas que vos calcinam". Diáriamente aumenta o número assustador de Kilotoneladas desta perfídia com que se entende a total aniquilação planetária. Que humanidade é esta que se delicia a enaltecer tamanha barbárie? Que é feito dos dignos, dos indignados sem manifesto reduzidos a um identikit tecnologicamente perfeito, tão perfeito de silêncios que nem a morte despertará. Más vale bueno conocido que malo por conocer. Hoje entendo a dimensão desta frase que escutei em terras de nuestos hermanos. Sempre a tomei por lugar comum, sem sentido ou lógica, saída da boca de anónimos de taberna. Parece que o silêncio, o terrível silêncio, calou os grandes escritores e pensadores actuais, salvo uma ou outra situação pontual, um dever de cidadania de quem imprime nos seus livros e escritos bons ideais que de alguma forma servem de tampão ao desenvolvimento das mentalidades ditas modernas fábricas do horror das quais somos operários, vítimas passivas sem norte. Bem hajam todos aqueles que se indignam e se manifestam com eterna e acertiva convicção, em prol da paz, liberdade, e democracia humanizadas.
Vitor Jorge
Comentário de Luis Fernandes do Canadá
Finalmente Vitor Jorge. Estava a faltar a eloquência. Oxalá venha recuperado de verdade pois a batalha vai ser duradoura e sangrenta. Os portugueses precisam dos seus escritos como de pão para a boca. Saramago açoriano como já alguém lhe chama. Vamos ter mais um Nobel. Chama-se Vitor Jorge e vive na república do Faial. Wellcome back Vitor. We missed you and what you write. Keep telling us what we are missing because they hide from the people and we deserve to know. The world have no more space for lies and you have a mission. I wish you a good health and we are waiting for your books. All the best.
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