sábado, 29 de dezembro de 2018

OBRAS PARA MOSCAS

OBRAS PARA MOSCAS

Dezembro, 2018. As moscas caíam pesadamente sobre o rosto, como chumbo de caça, e, como as previsões meteorológicas falavam de 14 graus "à sombra" , os transeuntes vestiam agasalhos cor rosa pelas ruas da cidade. Atendendo a esse motivo, decidi visitar o andamento das obras de requalificação da "frente mar", vestindo luto. Obviamente, e nesta fase, as obras estão cercadas por vedações, o que não facilita a observação a mirones, porém paira no ar o cheiro a água de Vichy da gloriosa e expectável mudança. O progresso é imparável, as auditorias às populações foram favoráveis, por maioria, como mandam os cânones democráticos. Neste "casamento" o sim foi até que a morte nos separe. Agora que se calem para sempre  os discordantes. Aliás, e segundo a revista municipal "Horta Comunica" , vivemos no jardim do Éden. A autarquia Faialense outorga-nos mil e uma noites de felicidade estilizada de concretizações floreadas, escancarados ao mundo como se do Dubai Açoriano se trate. A assistência social é uma constante (com enorme sacrifício) em benefício dos mais "necessitados", etc etc. "Bem-estar animal", "o ambiente a nossa qualidade". E etc, etc, pelas "quantidades" eleitoralistas, "beneméritas", do que foi prometido e não cumprido. A realidade fica muito aquém das expectativas, e as moscas conhecem bem este fenómeno em qualquer estação do ano o lixo abunda por recolhas tardias, onde os jornais da manhã chegam no dia seguinte, (com sorte) as encomendas postais cheiram a bacalhau e os cigarros tem mofo, o aumento do aeroporto é uma miragem, a constante degradação das vias, o abandono da terceira idade, e todas as regalias que deveriam benificiar por direito a população local. O progresso começa aqui, debaixo para cima. Nunca o inverso. Quem entende o contrário é indigno de dirigir os destinos do povo e da sua terra. Até as moscas sabem que a mentira é uma arte que diz a verdade.

Vitor Jorge

FLY WORKS

December, 2018. Flies fell heavily on the face like hunting lead, and as the weather forecast spoke of 14 degrees "in the shade," passers-by wore pink sweaters in the city streets. Given this reason, I decided to visit the progress of the works of requalification of the "sea front", wearing mourning. Obviously, and at this stage, the works are surrounded by fences, which does not facilitate the observation of the onlookers, but the smell of Vichy water of the glorious and expectant change hangs in the air. Progress is unstoppable, audits of the people have been favored, by majority, as the democratic canons command. In this "marriage" the yes was until death do us part. Now let the discords be silent for ever. In fact, according to the municipal magazine "Horta Comunica", we live in the garden of Eden. The Faialense autarchy gives us a thousand and one nights of stylized happiness of flowered concretions, wide open to the world as if the Açoriano Dubai is concerned. Social assistance is a constant (with enormous sacrifice) for the benefit of the most "needy", etc. etc. "Animal welfare", "the environment our quality". And etc, etc., by the electoral "quantities", "beneméritas", of what was promised and not fulfilled. The reality is far below expectations, and flies are well aware of this phenomenon in any season of the year garbage abounds in late collections, where the morning papers arrive the next day, (with luck) postal parcels smell like cod and cigarettes there is a mold, the increase of the airport is a mirage, the constant degradation of the roads, the abandonment of the old age, and all the benefits that should benefit the local population rightfully. Progress begins here, from the bottom up. Never the reverse. Whoever understands the contrary is unworthy of directing the destinies of the people and their land. Even the flies know that lying is an art that tells the truth.

Vitor Jorge

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

21 Dezembro 2018

Há palavras que são venenos, e os senhores intelectuais que debitam leis erram crendo pertencer a uma aristocracia; erram desprezando os homens comuns e supondo que seja mais útil vender a música que vender os vitelos e que seja mais importante um estudo sobre a pobreza do que o preço da fome e  misérias sociais eternamente adiadas em papel celofane de silêncios mortais, dispensadores de autópsias.

Victor Jorge

terça-feira, 20 de novembro de 2018

A VOZ DO MEU SILÊNCIO

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE

A VOZ DO MEU SILÊNCIO

Porque serei tão calado? Quanto mais falam aqueles que me rodeiam, menos vontade tenho de dizer alguma coisa. Talvez seja este o significado destes rascunhos que retomei ao fim de alguns anos. Dizer alguma coisa. Não sei com quem falar acerca da Luísa. Às vezes penso que a Maria, o João, o José, compreenderiam, mas estas pessoas tem mais que fazer. A Cláudia está bem. Esforça-se por acompanhar-me e não quero magoá-la. É verdade que não falo muito com ela. O meu corpo fala com o seu e talvez isso seja suficiente. Será? Confesso que me mantém vivo, me desentedia o tédio. Nem sequer lhe disse que a sua barriga é uma delícia. Hei-de dizer-lhe. Prometo. Ela também não é muito faladora. Afinal de contas, para quê falar quando fazemos amor? Com a Luísa a festa era outra. Para começar, era festa. Ela não só tinha prazer como se divertia. O nosso acto era alegre. Não faz mal rir em pleno orgasmo. Sinto muita falta da festa. Aí reside o segredo. A Luísa não era calada, e eu também não o era nos tempos da Luísa. Provocava-me com perguntas. Fazia-me pensar. A Cláudia, pelo contrário, quando fala dá logo as respostas. Respostas a perguntas que eu não formulei. A Luísa era insegura. A Cláudia é seguríssima. Eu estava seguro da minha insegurança. Que confusão. Hoje estive a fazer contas sexuais. A verdade é que passei por poucas mulheres. Por fidelidade? Por preguiça? Não sei. Só contei oito. Nos meus sessenta e cinco anos não é propriamente um recorde para o Guinness. Das outras, quero dizer, das ilegais, cinco foram apenas breves escalas. Não me deixaram marca. A que me deixou alguma coisa foi aquela Aline. Talvez eu não tenha sabido mantê-la. Das outras lembro-me dos seios, do sexo, das pernas. Da Aline, lembro-me dos seus olhos. Mais do que dos seus olhos, do seu olhar. Olhava-me como se quisesse dizer alguma coisa sem dizer. Nunca a vi chorar. Às vezes dizia-lhe coisas duras, a roçar o ofensivo, para ver se chorava. Mas ela só me olhava profundamente, mas sem lágrimas. Terei alguma vez sido feliz? Antes da Luísa perdi a Aline. A pobre Luísa apagou-se sozinha. E agora existe a Cláudia, que sabe acompanhar-me. A dúvida é se seremos um casal. Acho que sim, mas não deveria duvidar. Parece-me. Porque terei mudado de casa tantas vezes? Passei por mais casas que por mulheres. Escrevo estes rascunhos aqui sentado junto ao mar. Não são para ninguém, nem sequer para mim. Não me são indispensáveis. Poderia viver sem os escrever. Na verdade isto não é escrever. É apenas dizer alguma coisa num papel (rede social). Tive o melhor emprego que desejei. Só pelo previlégio de lutar pela liberdade e democracia universais. Dou-me bem com todas as pessoas. Normalmente dou-me melhor com quem me é afastado do que com quem me é próximo. Uma onda graciosa espraia-se em rendilhada espuma branca, vestindo as pedras negras. Que elegância. Acompanha-me bem como a Cláudia. Um galo canta longíssimo e depois outro, mais perto. Muitas vezes tenho vontade de responder-lhes. Mas só sei emitir cacarejos humanos, não sei cantar como o galo. Victor Jorge

O MEU PRIMEIRO CONTO

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE

O MEU PRIMEIRO CONTO (1973)

Frequentava na época a residência de um casal de professores universitários, que me recebiam e acarinhavam como se fosse membro da família. Um dia tomei de assalto a minha coragem, tirei do bolso duas folhas de papel manuscritas, e disse: escrevi um conto. Justifiquei.
É um pequeno conto não sei se presta. Talvez seja fruto das minhas fadigas e desencontros religiosos. Tossi suavemente para aclarar a voz, e iniciei a leitura do meu conto.

"Um santo milagreiro. Era isso que ele era. As beatas da aldeia juravam que o tinham visto suar, sangrar e chorar. Na vila próxima, uma agência turística organizava excursões para mostrar o Santo. Para uns tratava-se de São Miguel; para outros, de São Domingos ou de São Bartolomeu, e não faltou quem afirmasse que se tratava de um São Sebastião, um pouco estranho, já que lhe faltavam as setas. E como a própria Igreja não chegava a um acordo, a paróquia decidiu chamar-lhe O Santo e mais nada. Fosse o que fosse, o pároco estava encantado com a inundação de esmolas. Adélia não veio em excursão. Ela e os seus pais viviam desde sempre na aldeia, o que significava que conhecia o Santo desde criança.
A sua imagem tinha estado presente desde os seus primeiros sonhos infantis. Agora tinha dezassete anos e era a rapariga mais bonita em várias léguas das redondezas. Também o Santo era bem-posto e quando Adélia ia à capela e se ajoelhava diante do altarzinho lateral onde o Santo morava, a sua devoção tinha traços subtis de amor humano. Numa manhã de segunda-feira quando o templo estava deserto, a rapariga aproximou-se do Santo, olhou-o demoradamente e desta vez o seu suspiro foi profundo. Depois aproximou-se e começou a beijar minuciosamente aqueles sólidos pés de gesso. Depois acompanhou os seus beijos com carícias nas pernas descascadas.
De repente, sentiu que alguma coisa lhe molhava o braço. Ao princípio não queria acreditar, mas era verdade. Um milagre inédito, afinal. Porque aquilo não era choro nem sangue nem suor. Era outra coisa."

Que acha? Perguntei em profundo suspense à insigne  professora.
Não sei. Fiquei um pouco confusa. Tenho a impressão de que decorre numa linha de fronteira. Mas é uma fronteira que não costuma surgir na literatura: é a que separa a religião do erotismo.
Levantando as sobrancelhas, inquiriu o marido sobre a sua opinião.
Eu gostei, talvez precisamente por se passar nessa fronteira. O Santo humaniza-se. Nessa última linha deixa de ser gesso para ser carne. Então o que dizer ao Victor?
Então, isso mesmo.

Victor Jorge

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

PRETÉRITO IMPERFEITO

PRETÉRITO IMPERFEITO

Peguei a cadeira de baloiço, pu-la em frente à janela e ali fiquei sentado umas duas horas. Só. Em silêncio. Sem o ter especialmente premeditado, e com uma inesperada capacidade para manejar o meu próprio caos, comecei a peneirar o meu pretérito imperfeito, isto é, o meu passado não perfeito, rudimentar, indeciso, deficitário, trapalhão, destorcido, vulnerável, quebradiço, negligente, etc. O que tinha eu feito até agora? O mundo consome-se e despedaça-se em guerras estúpidas. Milhões de mortos, e eu, que faço? Que faço nesta cadeira de baloiço a contemplar a desolação? Sou um exilado da minha vida passada. Chego a pensar que contas feitas a consciência é simultaneamente o nosso céu e o nosso inferno. O famoso juízo final somos nós que o fazemos, dentro do peito. Todas as noites, sem termos consciência disso, enfrentamos um juízo final. E é conforme a sua sentença que conseguimos dormir descançados ou rebolamos em pesadelos. Nem Salomão, nem psicanalista. Somos juiz e réu, acusação e defesa, que remédio?! Se nós mesmos não sabemos condenar-nos ou absolver-nos, quem poderá fazê-lo? Quem tem tantos e tão recônditos elementos de juízo sobre nós mesmos como nós mesmos? Não saberemos, desde o início e sem a menor hesitação, quando somos culpados e quando somos inocentes? O que, ou quem não estará ameaçado neste contexto e nesta época? Vive-se e sempre, se viveu sob ameaça. A morte está dentro da vida, alguém disse. É verdade: a morte está dentro da vida. Mas podemos mandá-la de férias, não? Trabalha tanto que bem as merece. E não sintamos a sua falta, porque de qualquer forma voltará, e quando voltar tocar-nos-á no ombro. Mesmo dos milhares "imortais".

Vitor Jorge

Comentarios: Maria Kurtenbach - A tua escrita tao triste quanto poetica..Uma mistura de desistencia e esperanca. Uma porta aberta a todos quantos lutam na vida e sao esquecidos e injusticados juntamente com a inexoravel verdade da vida e da morte..  Como diria Camoes ,um contentamento descontente. Puseste-me triste e ao mesmo tempo deste-me esperanca. Escreve mais!

José Cipriano Catarino- Gostei muito. A condição humana tão bem retratada. Abraço

sábado, 10 de novembro de 2018

CONSIDERANDO

CONSIDERANDO

Não sei porque razão a bomba de Nagasaki me afectou mais do que a de Hiroshima. Talvez porque representou não só o horror mas também a sua continuidade. Expecificou-se a potência do engenho foi de 12,5   Kilotoneladas, acrescentando que uma kilotonelada equivale a mil toneladas de TNT. Hoje compreendo a sua verdadeira dimensão aterradora. Ora bem, como aqueles que lançaram a bomba não foram alemães, nem franceses, nem russos, mas sim norte-americanos, muitos historiadores festejaram o acontecimento enaltecendo os formidáveis avanços das técnicas bélicas das forças "democráticas" . Por outro lado, as centenas de milhares de vítimas não eram branquinhas mas sim amareladas, pelo que também não houve grande motivo de preocupação.
A mim, tudo aquilo me pareceu um horror. Nunca consegui perceber como é que as pessoas oscilaram de forma tão irresponsável entre a indignação e o regozijo. Prognosticou-se que com isto a guerra iria acabar e disseram-no com enorme júbilo, como se até ao dia anterior tivesse-mos sido todos as vítimas diárias dos bombardeamentos. Não é que eu tenha especial empatia pelos japoneses, mas pareceu-me sempre uma atrocidade que milhares de civis morressem calcinados. Com que rapidez os norte-americanos aprenderam com os nazis o sistema dos fornos crematórios! De Auschwitz a Hiroshima, sem escalas. Alguém escreveu: "com esta acção evitaram-se milhares de outras mortes". Estive prestes a cair no pecado colateral: odiar o ódio.
O progresso global desde então estabeleceu novas regras. Bombas H com um poder de destruição inimaginável: os ditadores. É como se alguém me disse-se "vocês também vão sucumbir, na verdade já estamos a sucumbir, só que são outras as bombas que vos calcinam".  Diáriamente aumenta o número assustador de Kilotoneladas desta perfídia com que se entende a total aniquilação planetária. Que humanidade é esta que se delicia a enaltecer tamanha barbárie? Que é feito dos dignos, dos indignados sem manifesto reduzidos a  um identikit tecnologicamente perfeito, tão perfeito de silêncios  que nem a morte despertará. Más vale bueno conocido que malo por conocer. Hoje entendo a dimensão desta frase que escutei em terras de nuestos hermanos. Sempre a tomei por lugar comum, sem sentido ou lógica, saída da boca de anónimos de taberna. Parece que o silêncio, o terrível silêncio, calou os grandes escritores e pensadores actuais, salvo uma ou outra situação pontual, um dever de cidadania de quem imprime nos seus livros e escritos bons ideais que de alguma forma servem de tampão ao desenvolvimento das mentalidades ditas modernas fábricas do horror das  quais somos operários, vítimas passivas sem norte. Bem hajam todos aqueles que se indignam e se manifestam com eterna e acertiva convicção, em prol da paz, liberdade, e democracia humanizadas.

Vitor Jorge

Comentário de Luis Fernandes do Canadá

Finalmente Vitor Jorge. Estava a faltar a eloquência. Oxalá venha recuperado de verdade pois a batalha vai ser duradoura e sangrenta. Os portugueses precisam dos seus escritos como de pão para a boca. Saramago açoriano como já alguém lhe chama. Vamos ter mais um Nobel. Chama-se Vitor Jorge e vive na república do Faial. Wellcome back Vitor. We missed you and what you write. Keep telling us what we are missing because they hide from the people and we deserve to know. The world have no more space for lies and you have a mission. I wish you a good health and we are waiting for your books. All the best.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

MADE IN AZORES

MADE IN AZORES

A indústria e consumo de produtos made in Azores, padece de doença crónica, desde sempre, motivada pelo fraco índice de productividade uniforme, concentrada práticamente numa única ilha, não fomenta o emprego indispensável ao progresso das nove ilhas que compõe o Arquipélago pseudo Autónomo Açoriano. As sucessivas falências das Conserveiras, da Sinaga, da Sata "Air Azores", mil toneladas de queijo sem comprador, etc etc. As aberrantes andanças a que se conduz a Universidade de Biologia Marinha instalada nesta cidade da Horta, não constituem bons auspícios para o povo destas ilhas, dependente destas já de si miseráveis valias de subsistência precária. "De onde se retira e não põe, míngua e não cresce" reza o provérbio popular.
A divulgação em feiras da especialidade a nível nacional e internacional de produtos Açorianos, tem vindo a ganhar uma aceitação de parâmetros razoáveis dentro daquilo que por cá se fabrica e confecciona, tipo caseiro, de precária e duvidosa sustentabilidade comercial.
Destaque para alguns vinhos considerados e reconhecidos como de altíssima qualidade a nível mundial, licores, bebidas espirituosas,  conservas e derivados de atum, lacticínios, destaque para alguns tipos de queijos premiados pela qualidade, e muito pouco daquilo que se entende como o melhor entre os melhores.
Generalizar tudo o que se produz com a marca Açores como qualidade inigualável, é um erro grosseiro, tendencioso, e desprestigiante. Há que assumir as nossas limitações, distinguir o que oferece qualidade daquilo que é escassa quantidade.  Sejamos honestos e realistas, o consumo de géneros alimentares produzidos nos Açores e comercializados internamente salda-se por insignificante, em causa estão a  qualidade mediana a preços incompatíveis naquilo que se apresenta como um tradicionalismo estático, comodista, e obsoleto, comprometedor de um desenvolvimento eficaz.    Produzir sempre mais elegendo a diferença pela qualidade constitui o segredo do êxito dos nossos produtos afim de motivar o seu consumo privilegiando pela justa alternativa qualitativa interna ou externa, com alguns adeptos da inteligência, mal apoiados ao promover a diferença daquilo que é genuinamente bom.
Possuímos boa matéria prima natural, de lamentar a escassa produção com qualidade minimamente exigível, que nunca constituirá uma mais valia de referência económica autónoma no progresso ilhéu, nos moldes em que se processa actualmente.
Esquece-se a feroz concorrência, e as suas consequências no consumo, limitado pelo instável poder de compra da população, assim, considere-se que uma conserveira Espanhola coloque no nosso mercado uma embalagem de conserva de atum por preço mais acessível, e igual qualidade, da que se fabrica por cá, em matéria conserveira a produção foi restrita em exclusivo ao atum, enquanto poderia ser aproveitada com outras espécies de pescado  como o chicharro e a cavala, é disso exemplo a fabrica Maná no Algarve que produz este tipo de conservas de altíssima qualidade com mercado e preço garantidos. Por cá, há longos anos a Cofaco investiu na conserva do chicharro, os afamados "Bembelos" extintos poucos anos volvidos quando a procura era assegurada e rentável internamente, prova inequívoca que aos industriais Açorianos interessa o lucro fácil e descontextualizado. Os hambúrgueres de chicharro e cavala capturados no Continente fazem as delícias de estrangeiros e nacionais, valorizando espécies pouco rentáveis comercialmente num producto criativo apetecível, saudável, e de rentabilidade assegurada.
Porque razão "o Açoriano patriota" consumidor que conta os tostões da sobrevivência, será motivado a gastar o que não possui num artigo Açoriano, por mera carolice egocêntrica?!
De igual forma é minimamente bizarro que se pretenda obrigar um turista a consumir cerveja Açoriana "Especial" quando o mesmo dá preferência a uma Sagres ou Heineken. Nas prateleiras das grandes superfícies comerciais, mercearias, hotelaria etc. estão bem visíveis os produtos Açorianos e Nacionais, observe-se as preferências, exemplo: perante um leite achocolatado de fabrico Nacional e um local, o consumidor prefere por maioria o Nacional, o mesmo sucede com a cerveja, e uma maioria de outros produtos. Porque será ?! A resposta é por demais objectiva no consenso comum.
É patética a fobia com que muitos apologistas ao consumo de produtos Açorianos, caso de muitos imigrantes, que tecem comentários nas redes sociais acerca das  saudades e vantagens do consumo dos mesmos, empanturrados de farta comezaina internacional regada a barris de Budweiser só porque lhes lava a alma e os sentidos. Produtos Açorianos?!... Bem, só nas férias de anos a anos e a contra gosto, porque o que lá consomem é           melhor porque "defrente," (leia-se diferente) o mesmo se aplica, porque visível, aos frenéticos "publicitários"  locais intrínsecos consumidores do made in Azores, no facebook, na realidade, a "enfardar" produtos Nacionais.
As "saudades" dos arrotos da laranjada, e outros refrigerantes típicos não vão além de uma farsa facebookiana também ela exibicionista, provocadora de azias e destemperos silenciados no vómito diarreico a solo. A aposta no fabrico de produtos naturais, faria a diferença, que se apresenta desinteressante nesta, e outras áreas de consumo.
Desejo ardentemente o desenvolvimento e progresso Açoriano, também sou um deles, com uma pequena mas fundamentada diferença, sou autêntico e inconvenientemente realista.
Tenha-se paciência, alguém aqui não faz parte deste filme irreal satírico, e pusilâmine.
Se a solução para o consumo do made in Azores passa indubitavelmente pelos exageros desconexos e exacerbados, que se afoguem os turistas que nos visitam em tanques de cerveja "Especial",  na gastronomia, que os empanturrem pela força bruta, com o cozido das Furnas, e creme de malagueta "puta" para barrar ao pequeno almoço, regado da "famosa laranjada".
Já que navegamos em marés de proibições, que se proíba o livre consumo interno restringido ao made in Azores, e teremos criada a maior democracia ditatorial independentista da Macaronésia.

Vitor Jorge

domingo, 19 de agosto de 2018

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE (5)

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE (5)

Monólogo de um general no dia 23 de Abril de 1974

Olha amigo, vocês que tem Marx preso com alfinetes e enchem a boca com o conceito da mais-valia relativa, poderiam recordar de vez em quando que Marx fala da economia política, das ciências da riqueza, como de uma verdadeira ciência moral, a mais moral de todas as ciências. Não vos ocorre que, embora o marxismo denuncie a alienação do indivíduo sob o regime capitalista, na realidade também está a propor uma mudança da categoria dessa ciência moral? O que fariam, tu e todos os teus revolucionários desengravatados, com a possibilidade de uma mudança de estrutura, como tanto gostam de dizer, e com a imediata entrega dessa estrutura recém-mudada a uma quadrilha de tipos imorais, ambiciosos, manipuladores, desleais? Parece-me formidável que mudem a estrutura, mas zelem para que simultaneamente se transforme a categoria moral deste povo, caso contrário a mudança vai-se desmoronar, e a evolução ou revolução ou o que quer que seja terá sido inútil. Não te ocorreu pensar que neste país existe uma grande apatia política, um colectivo encolhimento de ombros, devido talvez ao facto de as inexistentes conquistas sociais não terem sido dadas a um povo que também nunca as ousou reclamar?
Todos vocês são assim: aparentemente vêem claro mas no fundo são destrutivos. Só servem para inventariar os defeitos, as carências.
Não Vitor, a diferença é só de ritmo. Eu acho que a única transformação eficaz virá pela educação política, e esta requer o seu tempo. Tu, em troca, achas que a mudança será repentina, que amadurecerá subitamente, sei lá eu. Recordo claramente que antes de 20 anos tudo parece urgente, e é certo, é urgente. Mas o reconhecimento de que uma necessidade seja peremptória nem sempre significa que a solução  seja iminente. Oxalá tenham razão, tu e os teus camaradas, mas para mim só existem duas vias para adquirir consciência política: uma é a fome e a carência, a outra é a educação. Nós não sofremos fome nem carência, pelo menos não o sofremos como na África, e, por outro lado, não fomos convenientemente educados. Daí que nos importe tão pouco a verdadeira transformação política e, em troca, nos importe tanto o fenómeno político bastardo, adulterado. Quando digo isto, penso na pobre ambição burocrática, na rede de clubes, no grande nirvana dos reformados, na corrupção ao desbarato. Vocês fazem os vossos planos sobre a base de um povo que previamente idealizam, mas esse mesmo povo não deu ainda à idealização que vocês decretam. E acredita que isto que te estou a dizer não vai contra o povo nem contra vocês. Vocês são incríveis e tem as melhores intenções, reconheço-o, mas metem a pata na poça quando só tem esquemas económicos, ainda por cima alheios, e se esquecem da realidade básica: o povo também é incrível, há nele uma excelente matéria-prima mas antes que esta matéria-prima seja utilizável, é imprescindível educá-lo. Aqui quase todos sabem ler e escrever, mas não sabem pensar politicamente se não for em termos de empregos públicos ou de reformas. Há coisas que se arranjam em slogans, mas outras não. Se vos fosse possível fazer uma sondagem sobre reforma agrária, por exemplo, ieis descobrir que os seus defensores mais entusiastas são os profissionais, os intelectuais, os estudantes. Sempre classe média para cima, a maioria deles com um apartamento no seu activo imóvel. Mas convido-te a percorreres o campo, e se encontrares um camponês, jovem ou velho que não se assuste quando lhe mencionares a reforma agrária, ou que não afaste contundentemente essa possibilidade, terás de ser condecorado, ou, mais simplesmente ainda, não acreditar em ti. Convence-te de que, agora pelo menos, o nosso peão de exploração agrícola não tem sentido da terra, gosta de se sentir nómada. Esse é o teu precário e aventureiro conceito de liberdade, saber que hoje pode fazer uma domaçao aqui, amanhã uma tosquia acolá, saber que não está ligado a nada, ou pelo menos acreditar que não está. E agora sai, porque não posso estacionar. Obedeci, compungido, com a minha convicção inabalável, e um clic do gravador que em fita magnética registou este extenso monólogo.

Vitor Jorge 

domingo, 12 de agosto de 2018

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE (4)

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE (4)

Comoções

Nada se move aqui. Não há ruido, nem sequer buzinas. As persianas deixam passar uma luz débil. A perna de Aline  fora do lençol ainda me comove. Melhor dizendo, desde há uma semana que tudo me comove. No café, a funcionária carnuda comove-me, mas não graças à sua carne envergonhadamente oferecida ; antes me comove apenas pela sua categoria servilista. Na rua comovem-me os  mendigos que exibem as suas chagas convenientemente escondidas na sua total descapitalização. No meu dia social comovem-me as pessoas que me falem do quão maravilhosa deve ser New York ou o turista um pouco menos impessoal que pergunta timidamente que significado simbólico  tem a fealdade abusiva do edifício da Assembleia Regional dos Açores em contraponto com a magnificência da Biblioteca João José da Graça. À tarde quando passo pela rua principal desta mui nobre cidade da Horta comove-me a multidão de pessoas tentando caminhar num passeio variável entre os vinte centímetros e o metro de largura desafiando a cada passo o atropelamento pela obrigação de sair para a via onde circulam viaturas de dimensões e velocidades variáveis. À noite quando me instalo comodamente na insónia, comove-me a minha paciente e pormenorizada reconstrução de uma sociedade atípica, despretensiosa, arrulhando pelas esquinas bem me queres, mal me queres. Snipers armados até aos dentes disparando rockets fulminantes contra os governantes mortos de riso dos alorpados. Em qualquer momento quando a Yo desperta e me toca, ou vice versa, comove-me o seu pobre corpo que conheço tão bem, o sinal pequeno que vem depois do sinal grande, a zona áspera em redor do mamilo, a cicatriz à altura do apêndice, a vértebra que forma um promontório levemente maior que o das outras, o sexo morno, os joelhos lustrosos. Onde estarei amanhã? Hoje é o dia. Dia dos desassossegos, da luta, da fraternidade, da ancia desmedida de amar, tudo e todos, sem condição. Comove-me este teatro de perdas e enganos neste suspiro comovente que é a vida, mas irradiando volúpia requalificada.

Vitor Jorge

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE 3

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE

"Amuletos da sorte"

O primo Bartolomeu brincava comigo na ribeira e matagal contíguo. Não o vi mais, mas não me importou demasiado e continuei a brincar sozinho. Com pedrinhas, caracóis, com uma tábua de pregos enferrujados. Pensei que ele tinha voltado para casa. De repente vi a ferradura. A tia Maria aconselhava atirar as ferraduras para trás, sem olhar: isso trazia sorte. Então eu peguei na ferradura, para maior garantia tapei os olhos e lancei-a por cima do meu ombro. Ouvi dois segundos depois um grito agudo, e depois mais nada. Sim, tinha acertado na cabeça de Bartolomeu. E ele tinha desmaiado. Mataste-o, dizia a tia Maria quando chegou a correr, mataste o meu  bebé, o teu priminho, menino assassino. O corpo de Bartolomeu estava frouxo e o seu rosto exibia uma impressionante palidez quando o tio Francisco o levava em braços eu corria atrás, chorando e reclamando aos gritos: Que abra os olhos, diz-lhe que abra os olhos. Mas o bracinho continuava pendurado das costas do tio Francisco, como se a mão quisesse entrar no bolso do casaco de cotim. Depositaram-no sobre a cama e eu chorava, tentando explicar que não sabia que ele se tinha escondido. Diz-lhe que abra os olhos; diz-lhe tio. Pensei sinceramente que o tinha matado e a ideia tornou-se-me insuportável. A tia Maria punha-lhe panos de água fria na testa e o tio Francisco fazia-o cheirar amoníaco. Quando passados poucos minutos Bartolomeu abriu primeiro um olho, depois o outro, e disse queixoso: Ai como me dói, quem foi?; quando eu vi que vivia, rebentei numa gargalhada eléctrica e comecei a dizer à tia Maria: Viste, tia, eu não o matei, ele tinha-se escondido, eu atirei a ferradura para trás sem olhar, como tu me ensinas-te, mas não trouxe sorte ao Bartolomeu nem a mim. E ela riu, ainda chorando, mas já sem rancor, e abraçou-me: Ai, meu filho,
graças a Deus que não aconteceu nada, sabes quão horrível seria se tivesses matado o teu priminho? No entanto, alguns anos depois, quando o Bartolomeu realmente morreu vítima de um terrível acidente, esmagado pelo enorme tronco de uma árvore, não me lembrei daquela vez que o tinha visto frouxo, vencido com o braço pendurado e as pontas dos dedos a dois centímetros do bolso do tio Francisco.
Sorte? Duas décadas depois, matava para me salvar, porque o país só tolerava gestos desumanos, insossos e servis. Sinto-me como um destinatário universal da repulsa; asquerosamente sózinho,  naufragado numa ilha levada pela sorte individualista.
Continuo a olhar o espectáculo do mar do canal, com cinco velas desafiadoras e erectas e uma só nuvem branca afiada, apoiada sobre o dorso do horizonte; acariciada por mim, beijada por mim quase sem palavras, sem amuletos da sorte.

Vitor Jorge

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE 1

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE

Para quê escrever estes rascunhos? Quando os anos se sucedem, uma pessoa começa a ter noção de que o tempo foge, e talvez por isso alimente a auto-ilusão de que escrever sobre o quotidiano pode ser uma forma, mesmo que primitiva, de travar esse descalabro. Não se consegue travá-lo, claro. Nada nem ninguém é capaz de parar o tempo.
No entanto, há tantos factos e imagens que desfilam diante dos nossos olhos (paisagens, notícias, alegrias, rostos, leituras, surpresas, desgraças, riscos, luxos, multidões) e que de certa maneira nos alteram a vida, mesmo que seja apenas em milésimos do rumo predeterminado. Dias ou meses depois, é provável que lamentemos, se responsáveis, não ter apontado esses momentos e vicissitudes.
A verdade é que nunca acreditei nos diários íntimos. Creio que são muito poucas as ocasiões em que uma pessoa consegue aflorar a sua própria profundidade em instantes que podem ser maravilhosos ou assustadores. Mas isso talvez aconteça três ou quatro vezes ao longo de uma existência. De forma que não vale a pena simular que se alcança essa profundidade diariamente, quando na melhor das hipóteses, apenas se chega ao primeiro subsolo.
Afinal não é tarefa pequena ser honesto na transmissão do que se vê, se toca, se prova, se cheira, se ouve. Gostava que estes rascunhos fossem como um caderno de navegação, como me ensinou Agostinho da Silva, mas dos sentidos, e destinado a incluir também as eventuais reflexões provocadas por essas sensações e tacteamentos no vestíbulo da intimidade.
Hoje, no café, tive duas conversas um tanto inquietantes. A primeira foi com um norte-americano oriundo do Iowa. Pensei que seria subgerente ou terceiro vice-presidente de uma qualquer empresa de meia envergadura. Se fosse de um nível elevado, não estaria neste café. De qualquer forma, perguntou-me se eu lhe conseguiria arranjar callgirls, e eu disse-lhe que não, que esse tipo de "serviço" era prestado em grandes metrópoles, além do manifesto de ofendido. Respondeu que era uma pena porque gostava mesmo deste país, (ilhas). Perguntei-lhe porquê e ele disse-me que era por não ter pretos, o que lhe dava a garantia de que qualquer callgirl seria seguramente branca. Ainda esclareci que neste país havia uma percentagem considerável de pessoas de raça negra. Celebrou ruidosamente essa (percentagem considerável) porque poderiam ser esmagados a qualquer momento. Perguntei-lhe o que fazia. Para minha surpresa não era subgerente nem terceiro vice-presidente mas sim professor de Filologia. Saí do local apressadamente para evitar desgraça maior, para vomitar cem passos adiante, já em casa. O outro encontro de acaso foi  com um político da extrema direita portuguesa. Os nossos políticos veteranos deste teor foram injectados com o vírus salazarista, que pode gerar um tumor de acomodação e até um crescimento descontrolado e irreversível de células "democráticas". Este país está a desfazer-se e antes que seja tarde será necessário refazê-lo a tiro. O marxismo é uma infecção, não sabia? Por momentos pensei na família, nos amigos do coração, guardei o 45 no coldre da minha mente, e disse que não sabia.

Vitor Jorge

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE 2

FRAGMENTOS DO PASSADO PRESENTE                              

«Pecado»

O chá está fraco e a manteiga não esteve no frigorífico porque não havia. Está asquerosamente mole. Ninguém imagina quão importante é para mim o pequeno almoço, estou a crescer tenho seis anos de idade. Prefiro comer a torrada natural a deitar-lhe por cima essa porcaria. Naquele dia a torrada tinha sabor a hóstia. Com seis anos já comungava,  até aos dez na pequena igreja da aldeia onde nasci. Era bonito o pátio da casa da avó. Dali se via a igreja e adro branquinhos no contraste e pacatez do verde da aldeia. Para mim era dia de poder e glória. Carne e espírito. Deus e Diabo. Vermelhos e brancos. Inocentemente disse ao padre que quando fosse grande ia ser vermelho e mandou-me rezar vinte e cinco ave-marias de urgência. Disseram-me: enquanto tiveres a hóstia encostada ao céu-da-boca, podes pedir três coisas. Eu pedi pela saúde de toda a família e uma bola número cinco. Sacrifiquei-me deixando a bola para último, pondo à frente as duas solicitações nobres, contudo, Jesus nunca me conseguiu a bola. Com a saúde cumpriu, ao menos por um tempo. Em matéria de religião, foi a única época feliz, porque Deus não era ainda a nebulosa em que depois se iria transformar. Uma nebulosa cada vez mais divertida. Era um Deus feito pessoa, com barba e tudo. Além disso, a igreja era uma espécie de sedativo, sobretudo no verão. Não tenho nenhum pecado, disse no confessionário. Filho, não é preciso ser tão soberbo, por acaso não lançarás algum olhar pecaminoso para as raparigas da tua escola? A partir desse momento propus-me perder a minha soberba. Não andava fisgado nas miúdas. Mas no dia seguinte fiz todos os possíveis por olhá-las pecaminosamente. Hoje, sim, tenho um pecado, disse no domingo no confessionário. Este padre era mais velho e olhou-me desconfiado. Qual? Olhei pecaminosamente para as miúdas da minha escola. Eu estava coberto de satisfação porque havia vencido a minha soberba. Não há que ser soberbo, disse então o padre mais velho, nunca te orgulhes de ser pecaminoso. Rezei em aflição os trinta pais-nossos e saí a correr. Abri o dicionário na palavra «pecaminoso»: pertencente ou relativo ao pecado ao pecador. Um pouco mais acima estava a palavra «pecado»: feito, dito, desejo, pensamento ou omissão contra a lei de Deus e seus preceitos. Sim, claro, eu tinha olhado as miúdas com omissão, no entanto não omito a manteiga toda mole,e rançosa. Oh que bom é sorrir. Acabou o pequeno almoço e tenho o estômago gloriosamete revolto.

(Publicado, porque todas as histórias merecem ser contadas)

Vitor Jorge

quinta-feira, 19 de julho de 2018

O BALHO DA POVOAÇÃO

O BALHO DA POVOAÇÃO

Que viva e se regenere o folclore Açoriano!
Este, foi o tema estrategicamente selecionado pelo governo e gestão de uma pseudo companhia aérea regional SATA, para embalar os seus utentes em estilo surround, levando-os a ceder ao ímpeto neurótico gerado pela desutilidade pública deste boteco aéreo. Diariamente o polegar do governo regional e administração da companhia inverte-se jogando na arena os pobres passageiros  entregues ao pasto das feras com requinte de desrespeito e maldade, de fazer corar os grandes imperadores da Roma antiga.
Os lesados travam lutas épicas nas redes sociais, travam-se de razões, denunciam, embirram, babam-se, espumam de raiva, ao som do balho da Povoação, pianíssimo, anestésico, até à próxima atrocidade de minutos ou horas. Questiona-se a ausência de métodos, porque existem, de colocar um ponto final nesta parafernália surrealista que não penalize mais este povo sem alicerces políticos mas com princípios e tradições gloriosas, morto, sujeito aos caprichos de estarolas, testas de ferro, de pressupostos governativos inexistentes a uma redenção digna e  progressista, por direito próprio.
Filho que nasce antes da mãe, só poderia ser inventado pela filha da padeira toda a noite a peneirar. Basta de senhor sogro já cá vai! Entoe-se qualquer hino libertador que nos devolva imediatamente aquilo a que nos assiste por ordem justa e humana defendida por políticos credíveis que se apagou da memória das gentes, só porque nunca mereceram a urgência da razão. Decidam-se, sobre o leitinho derramado!

Vitor Jorge

O “Balho da Povoação” é o único balho em que os pares dão mas mãos. Dão-lhe o nome de Vila da Povoação, porque é originário desta, a primeira terra a ser povoada pelos portugueses, por volta de 1439. É muito antigo e a sua coreografia lembra uma flor que se abre e O fecha."

Balho da Povoação

Minha avó quando nasceu
Eu já tinha três semanas,
Já vinha da Povoação
C'um saquinho de castanhas

Ontem à noite fui ao balho
Mai-la minha rapariga,
Eu dei-lhe um beijo na testa
E um beliscão na barriga

Minha mãe quando nasceu
Eu já estava em S. Vicente.
Minha mãe está teimosa,
Que nasceu à minha frente

Oh que linda rosa esta
Tenho eu ao pé de mim!
P'lo cheirinho que ela deita
Parece que veio do jardim

Nesta terra não é uso
Ir pedir a filha ao pai
Vai-se p'la escada acima
«Senhor sogro, já cá vai»

O balho da Povoação
Quem havia de inventar?
Foi a filha da padeira
Toda a noite a peneirar

"Folclore popular da Ilha de S. Miguel Açores. Versão: ( Ronda dos Quatro Caminhos) "

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A "SIMPATIA" DA ATLÂNTICOLINE

A "SIMPATIA" DA ATLÂNTICOLINE

Viagem Horta Madalena hoje 09/09/2017, Gare da Horta, às 07h30m no navio Mestre Simão: acesso à aquisição de bilhete através de intrincado labirinto de "fitas" confuso e desnecessário, com boa vontade o "corta bilhetes" é suficientemente simpático, partida com dez minutos de atraso, "normal", por conta da simpatia. Viajem e chegada agradável e sem incidentes ao porto de destino: Madalena.
Regresso à Horta, viagem das 09h45m mesmo navio, mesmas "fitas" labirínticas por cópia ao milímetro, igual simpatia do "corta bilhetes". Saindo a porta da gare para embarque, um soberbo "brinde": a um metro de distância da porta uma moto quatro com potente escape voltado para a saída dos  passageiros cuspia abundante fumarada enquanto o suposto operador sentado com o rabo para o volante aguardava que o "baptismo" se cumpri-se até ao último passageiro. Com náuseas uns, abanando a fumaça outros, muitos tapando o nariz, lá embarcaram todos em paz e harmonia, até porque nem havia motivos de reclamação. A "simpatia" da ATLÂNTICOLINE é um mar de emoções imprevisíveis à medida de cada passageiro. Que não se dê importância ao reparo poluente, afinal é o minimamente razoável por estas bandas, aliás acontece em toda a parte quando a incompetência tem mais marés que marinheiros.
Este incidente não provocará nenhum furação, no mínimo é uma falta de respeito para com o passageiro que evolui das antigas lanchas do Pico nas quais comer fumo durante meia hora era obrigatório. Hoje nem um segundo se permite com tanto empreendimento de "requinte operacional."

Vitor Jorge
09/09/2017
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Comentários
depreciativos a este post: Roger Dias imigrante reformado residente nos Flamengos - Marco Medeiros Medeiros (marreco) funcionário - Bruno Peixoto funcionário- Nuno Capela funcionário- Flávio Costa- funcionário- Frutos Furtado- desconheço